sábado, 13 de dezembro de 2008

People Watching

Voltando para casa, entrei em um ônibus quase que por vontade alheia. O motorista abriu as portas e então bastou ensaiar uma entrada que, junto comigo, molhado, outra dezena de pessoas , molhadas, completaram o espetáculo. No entanto, estava em um dia de sorte - acontecimento nada rotineiro - e encontrei um assento vago antes da catraca. Não iria descer tão cedo e mesmo que tivesse que descer, sentaria; costuma ser o melhor lugar de um ônibus. Pode ser que o motorista, já entediado diante dos quilômetros de asfalto, faça piadas sobre o que vê pelo transito, ou xingue de forma engraçada os motoqueiros que passam azucrinando. algum velhinho pode sentar-se ao meu lado e começar a contar histórias, tão cheias de memórias, pois, de fato, os velhinhos são muito bons de papo e nunca se sabe, ao certo, o que esperar dos primeiros lugares de um ônibus cheio.

Nada disso aconteceu. Apenas fiquei sentado, ouvindo música. Em alguns momentos tirava os fones de ouvido como um movimento de esperança para tentar ouvir algo ou escutar algum xingamento e torcia o bico diante do mormaço de um ônibus chuvoso, mas nada parecia sair de boca alguma e o tédio, molhado, arrastava o tempo e o espaço. Todos amassados, amontoados, cansados. Quinta-feira-chuvosa.

E de repente, ao meu lado, uma senhora sentou. Perfumada, lembrava-me àquelas avós de contos que lia na infância. Carregava um saco de suspiros e os comia com tamanha graça que eu rejuvenescia dois ou três anos a cada suspiro que ela retirava do pacote e levava até a boca. Quando eu já estava muito aquém de puberdade, ela levantou os braços e falou: "Que caloooor!". E todos riram e, finalmente o motorista disse: "Tem razão. Puta que o pariu! Que calor!". E a senhora, encabulada e com um suspiro na eminência da boca, olhou para o motorista com evidências de reprovação. Todos, outra vez, riram. A velhinha, não molhada, fazia com que as rodas andassem mais rápido, acordava o cobrador e, colorida, despertava a atenção daquela massa amorfa e molhada que sacolejava, vez ou outra, em curvas mais fechadas. E todos, novamente, riam.

“Todos”, assumo, foi um erro. Um velhinho, do outro lado do corredor, não esboçava prazer com toda aquela graça. Lia um jornal amarrotado e, de vez em quando, olhava as horas em seu relógio; não se pode ser feliz encarando um relógio a cada cinco minutos.

E, então, os suspiros foram largados ao meu lado – relutei para não tocá-los – e a senhora, suspirando, voltou-se para o velhinho do jornal, talvez de mesma idade com menos suspiros e mais espiadas ao relógio.

- O senhor não se importa de abrir um pouco essa janela?
- Não. Não.
- Coisa pouca. Um palminho, nem isso.
- Não. Não. De fato...
- O senhor não sente, mas o ar daqui está viciado. E essa chuva...
- De fato, minha senhora. De fato.
- Obrigada.
- Magina. Magina.

A janela foi fechada pelo velhinho que amassou o caderno de esportes e, disfarçadamente, olhou por mais uma vez os ponteiros de seu relógio que haviam andado apenas o espaço de cinco minutos. Abafado e sólido, nem por isso o ar deixaria de ser viciado. Estamos em São Paulo, estamos em 2008 e aquela velhinha comendo suspiros não pertence a espaço ou data alguma – quanto mais a estes. O ônibus seguiu lotado pela Consolação, a velhinha terminou seus suspiros, o velhinho leu todo o caderno policial, atravessei a catraca, desci no ponto de sempre e cheguei um pouco mais jovem em casa. Dias chuvosos são agradáveis à leitura, ao ócio e aos suspiros.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sobre liberdade, peladas e cuecas

Todo final de semana, chego à mesma conclusão que as sextas-feiras são os meus dias favoritos. Claro que não são apenas os meus dias favoritos, há muita gente que idolatra uma boa sexta; enfim, de fato, não há sábado que dê conta desta preferência. Depois de assumir tão exaltada idolatria, acredito que não preciso começar a narrar esta crônica com o já clássico “era uma sexta-feira”, mas vale avisar: era uma sexta-feira. E o sexto dia da semana, para mim, é dia de futebol e de samba. Após vinte e duas aulas semanais, preciso apenas suportar mais duas curtas aulinhas e jogar-me em alguma quadra ou alguma roda.

Almoço com pressa, como sempre. Um bom banho para tirar toda a tensão da semana e estou pronto para fazer minha mala. Não que vá fugir para algum lugar, mas gosto da sensação de liberdade. Tênis, meia limpa, camisa do verdão, camisa limpa, bermuda, calça jeans, desodorante, uma boa e velha toalha, sabonete, xampu, caneleira, meião e pente. Mala feita!

Roubo uma maçã da geladeira e ganho a calçada de meu prédio. Ando alguns metros e estou no ponto de ônibus; espero pelo demônio amarelo, demônio porque o maldito sempre demora mais do que trinta e cinco minutos para, finalmente, parar em minha frente com suas convidativas portas abertas, e amarelo por simplesmente ser amarelo.

Sempre que subo em um coletivo, sigo um ritual. Jogo a mala para o lado direito do meu corpo para facilitar minha passagem pela catraca, apalpo minhas calças para garantir que minha carteira e meu celular ainda estão nos bolsos nos quais os coloquei, ligo meu mp3 e levo os fones até meus ouvidos. Praticamente um fordismo do comportamento. Tudo tem sua ordem, toda ordem produz alguma coisa e esta rotina sempre leva ao mesmo lugar: os últimos assentos do ônibus. Minhas músicas também são, estranhamente, ordenadas. Sempre samba, é sexta-feira, e sempre começo por Noel e sua melancolia de Vila Isabel, e acabo com Chico Buarque, sua criatividade e poesia. Apesar de você, demônio amarelo, quarenta e cinco minutos depois, eu chego às portas de minha faculdade.

Sem paciência para esperar o elevador, subo correndo os seis andares que me separam de minha mais que almejada pelada. Ainda restam duas horas até o sinal de minha primeira aula. Um aquecimento rápido, finjo alongar minhas pernas e pronto! Carrinhos, ponta-pé para cá, ponta-pé para lá, cabeçadas, broncas, xingamentos, defesas, gols e meu suor escorre, e meu sorriso surge, e meu alívio chega. É sexta-feira!

Talvez a hora mais desagradável seja o vestiário após a peleja. Todos resolvem tomar banho ao mesmo tempo. Desodorantes e perfumes masculinos, sinceramente, não me agradam e empesteiam cada metro cúbico do já tão cúbico vestiário. Ossos do ócio.

Um banho rápido, toalha e pente. O chinelo estapeia o chão até o banco onde deixei minha mala. E então, o declínio: esqueci-me de uma cueca limpa. Podem imaginar o quanto uma cueca seria a salvação daquela sexta-feira? E então, o dilema: vestir a cueca que usei para jogar, mesmo que esteja irreconhecível após duas horas de jogo; ou simplesmente não vestir nada e enfrentar o desconforto pelo resto do dia. Óbvio, tomo por minha a opção mais higiênica e assumo esta liberdade. Afinal, quem precisa de uma cueca? Somos reflexos do século no qual as mulheres queimaram os sutiãs; espero ser o mártir do movimento pelo bicho solto!

Meu andar já não é tão feliz. Minha sexta já não é tão esperada. Quero a porta da minha casa, o corredor, a porta do meu quarto, a porta do meu armário, a terceira gaveta da esquerda e uma cueca, não importa cor ou modelo, apenas uma cueca. E o querer toma conta e já não quero a roda ou a quadra. Entro na sala e decido prestar atenção ao máximo nas duas aulas para que estas cinco horas passem o mais rápido possível.

Sala cheia! Em plena sexta-feira, uma sala cheia! Tenho certeza que todos estão presentes para rir de minha desgraça. De certo já sabem da ausência de minha cueca e querem presenciar meu vexame, meu caminhar desajeitado. Sento na primeira cadeira que encontro, cruzo as pernas e espero. Espero que o tempo passe rápido, que ninguém fale comigo, que não precise levantar para nada, enfim, espero.

O tempo não passa. Todos falam comigo. Minha borracha escapa de minha mão e corre para longe de minha cadeira umas três vezes. E quando o tempo passa, já não sei se quero levantar. Espremido entre tantos, pareço não querer seguir meus próprios passos. E estes passos me levam ao ponto de ônibus. O anjo azul chega com suas portas sorridentes. Acredito que não preciso explicar a cor e o anjo. Ônibus lotado, de certo o pessoal da sala espalhou por São Paulo inteira que estou sem cueca. Todos olham, de lado, quase sorrindo, minha desconfortável postura. Sacolejos, com o perdão da expressão, torturam-me. Já não obedeço a rituais, levar os fones aos ouvidos é perda de tempo. Não importa o pandeiro, Noel, Cartola, o bumbo; o que escuto é um estridente cavaquinho que irrita e faz questão de lembrar-me a saudade que estou de uma cueca. O mundo me condena e ninguém tem pena.

Chego ao terminal próximo a minha casa. Mais alguns passos e terceira gaveta da esquerda! Mais alguns passos e cueca! Elevador, porta de casa. O barulho da chave desperta meu pai, quase imóvel no sofá após uma sexta-feira carregada. Ele corre e destranca a porta para que eu possa entrar. Olha em meus olhos e pergunta:

- Como foi a sexta, filhão?
- Péssima, pai. Péssima.

Mal sabe meu velho que nem sempre a liberdade é bem vinda.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Chama o milico! Chama o milico!

Ontem (domingo, 05 de outubro de 2008) votei por minha quarta vez. Carreira eleitoral ainda curta, mas já gabaritada do plebiscito ao segundo turno de eleições presidenciais. Prestes a completarmos 20 anos, e refiro-me aos meus e aos da Constituição, contemplamos um show de eleições - candidatos piadistas, eleitores dramaturgos e personagens já típicas de nosso universo democrático.

Tão pouco panfletário quanto destro, não sou a favor de ditaduras e regimes extremistas - temo os generais e os camaradas no poder. No entanto, o que fica é a impressão de que ainda não fomos educados para sermos diretos, . Enfim, toda esta lacuna entre poesias e ritmos deve-se às seguintes declarações:

"É um novo momento, uma nova eleição. Eu sabia desde o primeiro dia que eu iria ao segundo turno. Não sabia contra quem, mas sabia que iria para o segundo turno. (...) Eu tenho o melhor cabo eleitoral [presidente Lula], que é o maior líder brasileiro, quiçá o maior líder que o Brasil já teve"

Marta Suplicy, candidata do PT à prefeitura do município de São Paulo


"Pela manifestação dos eleitores, eu não poderia deixar de registrar a importante participação nessa avaliação de governo da figura do governador José Serra. Com muito respeito ao PSDB e ao candidato Geraldo Alckmin"

Gilberto Kassab, candidato do DEM à prefeitura do município de São Paulo

fonte: http://campanhanoar.folha.blog.uol.com.br/

Máquinas públicas como cabos eleitorais. Lembro, do ainda pouco que li, dos já velhos e direitos cabos que expunham suas opulentas metralhadoras e seus temidos alicates a todos aqueles que gritavam contra a ditadura. Deixo, já que é um blog pessoal, minha opinião de pouca valia: cuspimos, mais uma vez, na testa da grega velha.

Quanto ao título, deixem o milico enterrado e passado. Usei a má expressão apenas por gostar muito da já eterna música de Chico, não por esperar que volte tal tormenta.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Do pouco que entendo de sentimento poético

Digo que a poesia
é um modo de ser
criança - cria
para onde quer.

As frases têm pernas:
Os poemas convidam
ao som e às imagens
das palavras amigas.

(Fernando Paixão. "Fantasia de autor".
in: Dia brinquedo. São Paulo: Ática, 2004.)

Olhos arregalados, olhos de quem enxerga o mundo pela primeira vez. Audição, visão e olfato em seus estados mais exaltados. Pouco fala, muito pensa; pensa em palavras, ritmo, rimas e anáforas. Cada instante de sua visão é reduzido a métrica e ampliado ao sentido. A construção poética revela então um outro mundo. Texto escrito. Ponto final posto.

Olhos arregalados, olhos de quem enxerga aquela página pela primeira vez. A visão esbanja preferência e a audição e o alfato tornam-se quase imperceptíveis. Pouco fala, muito pensa. Pensa em palavras, significados, figuras de linguagem e de pensamento. Cada métrica é ampliada à sua visão e o sentido extraído de cada rima, cada anáfora. A leitura poética revela então um terceiro mundo. Nunca o presenciado pelo poeta, jamais o metrificado, mas sim o contextualizado. Texto lido. E o ponto jamais é final, apenas um convite à releitura.



Estou lendo "Versos, sons e ritmos" da Prof. Dra. Norma Goldstein. Livro curto, mas de importância absurda. Recomendo a todos que gostam de poesia e lingüística.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Somos tropicais, não somos?

Todos sabem que moramos em um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Os trópicos nos deram o clima e os gringos nos nomearam latinos. Criamos então o chorinho, o samba e a bossa-nova; o Brasil marcava o mundo com seu ritmo e sua cultura digna da antropofagia pretendida por alguns modernistas. 1964 e muitos Atos Institucionais depois, enfrentamos uma ditadura militar que nos podaria em cada verso, em cada nota musical. Movimentos surgiram e até 1968 vivemos um clima de revolta de alma estudantil e faces juvenis, que se caracterizaria de esquerda e iria lutar contra aqueles que, com a tesoura na mão, faziam questão de decepar qualquer idéia de liberdade que brotasse em cabeças brasileiras.

Os movimentos de tradição esquerdista tomaram como marca a nossa cultura, era preciso ser patriota para derrubar a ameaça armada. O violão e os versinhos de Vinicius estariam em boas mãos: os jovens cantavam Jobim e assistiam Glauber Rocha, nada mais brasileiro do que ser alheio ao mundo, ser nacional. Era preciso construir uma geração de patriotas disposta a gritar contra a ditadura.

Do mesmo modo que a ferrenha ditadura acabou por criar a força dos movimentos libertários, essa radical esquerda provocaria o que viria a ser verdadeiramente tropical. O rock, as psicodélicas guitarras elétricas de Alegria, Alegria; o pop, o erudito e o brasileiro juntos: nascia a Tropicália.

Quebrando qualquer corrente brasileira já existente e baseando-se no movimento hippie norte-americano, o tropicalismo trouxe o verdadeiro sentimento libertário ao país. O movimento ocorreu entre 1967 e 1968, e trouxe ideais novos sobre sexo, música, comportamento e política. Um ódio movia a avant-guarde de baianos que chocavam as platéias dos festivais da TV Record acostumados a Buarques e Vandrés. "Viva a palhoça-ça-ça!". Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé e outras feras que compunham e inovavam a cada verso, jogaram-se contra tudo o que era convencional e marcaram à guitarras elétricas o novo jeito brasileiro de ser: o escândalo das cores, o ritmo, a poesia, a política de tudo que é contrário à dominação e a favor de tudo que é vinculado à liberdade de expressar o que se bem entende.

Os tropicalistas foram perseguidos e Caetano e Gil presos em dezembro de 1968. A ditadura rompia a vanguarda, mas a vanguarda romperia a ditadura mais tarde e perduraria até os dias de hoje, 40 anos depois, com as músicas, poesias e obras de arte que eternizariam as roupas coloridas e os cabelos encaracolados desses nobres tropicais.


Discurso de Caetano como reação às vaiais do auditório dos festivais de música da TV RECORD.

Que juventude é essa? Que juventude continua sendo essa?

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre batuque e pandeiros mancos.

Pandeiro, pão-Demônio


Velho pandeiro que agora espanco,
velho, de couro velho e um prato manco,
madeira machucada que o tempo marcou,
em você marco o ritmo, a raiva e o que aqui passou.

O tapa é o forte que me abate.
O ritmo é a alegria - que esta não me mate.
O som quase típico, o copo inteiro etílico,
amigos rindo, alguém cantando e eu espanco.

Estanco o que de mim se aflora.
Nasceu a raiva e o nervosismo sua presença implora.
Morre aqui nesse tapa, meus devaneios,
meus medos, e em meus dedos, minha demora.

Morre o pensar, o penar, o esperar.
Morre ela e tudo o que dela minha solidão explora.
Nasce o riso, o pranto tolo. E outra samba,
e outra canta e eu rebolo.

Mão que de tanto bate que se abate o embate.
Desilusão, um toque, um tchau e um "vai-te...".
À merda, é claro. Porque pandeiro é malcriado
e de tanto apanhar fez-se meu criado.

Guilherme Assen, poema ao meu velho.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A Bela e a Feira



Profetisa.

Ela vai para Austrália.
Depois de tudo, ela vai em boa hora.

Profetas, aos prantos, declamarão:
"Casará com um aborígene,
pintará o cabelo de roxo
e aprenderá a surfar!

Os amigos, todos eles,
em São Paulo vai deixar.
Por um sonho, maior que ela,
diz a Bella, que vale a pena buscar".

Rimas fracas de profeta.
Coração amigo de poeta fraco diz:
"Saudade. É tudo que vou guardar."

Já não sambo com mais ninguém.
Volte, minha nêga.
Volte e me faça sambar.

Guilherme Assen.

Sábado fui à Feira Moderna - lugar apaixonante. Loja de artesanatos e café durante o dia, bar e palco para o samba durante a noite. Um jardim bem cuidado e frequentadores bonitos. Cerveja Original e pinga original do nordeste, a Cajuína. A caipirinha é boa, mas isso já é uma redundância; com tantas qualidades e com bom samba qualquer limão e pinga ganha vida.

Garotas de vestidos azuis (ou verdes) também são vistas por esse lugar. Graça, beleza e samba. Samba de branco, de mulatos, de negros e de japoneses. Samba não tem cor, tem graça. Feira Moderna é um canto interessante na altura do número mil-duzentos-e-quarenta-e-poucos da rua Fradique Coutinho, Vila Madalena, São Paulo, São Paulo.

Para aqueles que não conhecem samba ou cajuína, fica a oportunidade. Para aqueles que conhecem garotas de vestidos verdes (ou azuis) corram pois estas costumam a sambar sozinhas, não falta homem, falta atitude. E para a Dona Isabella, que em breve deixará nosso Pindorama e rumará para sua aventura por terras australianas, toda a sorte e felicidade do mundo. Amo você e espero a volta da amiga para qualquer samba, qualquer dia desses.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ao Mestre, com carinho

"Os verdadeiros versos não são para embalar,
mas para abalar..."

- Mario Quintana






domingo, 6 de julho de 2008

Da nova série: "Clique no poema"


A Poesia agradece.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

do Lat. "florescere"

Reforma dos espaços estudantis da FFLCH-USP; nada mais polêmico. O centro acadêmico não está satisfeito com as mudanças, os estudantes, confusos, não sabem se apoiam ou não, os departamentos reclamam que a faculdade precisa de uma reforma há muito tempo e o barulho, sempre ele, conspira contra as aulas de Estudos Literários.

Aprovada ou não, a reforma acontece. Tábuas cercam o canteiro e o que era um terreno entre mato e faculdade hoje é espaço para a mudança.

Fica, desse polêmico episódio na história do curso de letras da Universidade de São Paulo, a lição pichada nas, antes feias, tábuas que protegem a obra:

Foto: Larissa "Lalá" Cabrini

"...Rompeu o asfalto". Chego a pensar que o asfalto foi feito para ser rompido.

sábado, 28 de junho de 2008

Core de Cor

Passageiro de Core

Assumo, sou passageiro.
Desde então, vivo melhor.
De amores, vivo solteiro,
desilusões, sei de cor.

Guilherme Assen


Copos de cerveja e amigos queridos dando risada: Férias chegaram! Algumas caipirinhas, pinga e limão, sempre elas, e algumas redondilhas maiores, grandes antepassadas, surgem. Primeiro dia de descanso e a poesia se faz presente. Seja bem vindo sentimento de liberdade, que não seja eterno posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.

Quanto ao livro de García Márquez, Santiago Nasar morre e eu finalmente sei o motivo. é o companheiro certo. "Crônica de uma Morte Anunciada" é um típico García Márquez, todo o mais dispensa comentários.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Um Desespero Crônico Anunciado.

Em "Crônica de uma Morte Anunciada", Gabriel García Márquez escreve sobre o inevitável e, não apenas nesse caso, o óbvio: a morte. A personagem do conto, Santiago Nasar, levanta-se às 5h30m da manhã de uma segunda-feira preocupando-se com a visita de um certo bispo em sua cidade. Sem saber, sonhos e outros sinais levam a conclusão do conto... Ele vai morrer! Como? Por quê? Só García Márquez e quem leu o livro até o final sabem. Eu, com minhas duas faculdades insistindo no massacre de trabalhos e textos, não consigo matar essa leitura. Menos de um mês para tudo isso acabar. Desespero anunciado. Copos de cerveja e noites bem dormidas que esperem.

E pensar que o penar de tudo isso é passar um mês sem nem sentir os passos dela.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Sobre o Vago

Um vago passeio pelo Shopping, desculpem o pleonasmo, e uma constatação: é o máximo de nossa civilização. Vitrines, chão limpo, pessoas educadas e até mesmo vendendores educados. Casa das cuecas, dos computadores, das camisas de engomadinhos e até gravatas encontram-se por ali. É o comum que comunista algum sonhou encontrar. Todos somos igualmente nulos e, vestidos iguais e com cortes de cabelo muito parecidos, almoçamos as mesmas caríssimas porcarias. Só há um problema com este acumulado: as lojas de sabonetes não respeitam os outros cheiros.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Brecht, o Bertolt

"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

- Bertolt Brecht
Bertolt Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898 e morreu em 14 de agosto de 1956. O poeta e dramaturgo alemão conviveu com conflitos que marcaram uma época: as duas grandes guerras mundiais e o início da Guerra Fria.

Ao ler algumas pesquisas eleitorais que já circulam por alguns jornais, lembrei desta citação de Brecht que li há algumas semanas. Brecht não teve a oportunidade de presenciar as nobrezas da moderna política brasileira , acredito que seria um prato cheio para suas poesias e peças teatrais.

Enxergo em meu próprio país, e concordo que não sou ninguém para enxergar, uma completa dominância das vacas - bestas ruminantes, são animais estáticos e sem graça das quais as tetas são abusivamente expremidas por alguns fazendeiros donos do pasto.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Sobre Ênclises e Amor

Buscas Enclisiásticas

Busco-me
e busco-te
e busco-me
e pouco acho-me
e já não acho mais nada.


Ênclises são tão chatas.
Buscas, mais ainda.
Procurar-te-ei, então.

08/05/2008

Peço desculpas aos gramáticos.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um quintanar para a morena sem canetas

Declaro que perdi minha cota de razão e como bom "perdedor" que sou, não lembro ao certo onde a perdi. O fato é: o que já era tão raro, torna-se ausente. Se alguém, por algum motivo, achar razão em devolver-me a já esquecida, peço que não faça. Já não sinto falta alguma. Penso naquela morena cada segundo do meu dia, do segundo ao sexto, com folgas nos fins de semana e feriados. Deve haver alguma razão para não parar de pensar naquela garota que nem canetas tinha para fazer a matrícula, mas a dispenso... e penso.

Velhas Carolas

"Mas que susto não irão levar essas velhas carolas se Deus existe
mesmo..."

-Mario Quintana


E que susto não irão levar esse moralistas se moral existe mesmo...

domingo, 13 de abril de 2008

A voz de um mestre

"Penetra surdamente no reino das palavras."

O Tom de um tal Zé

"Deparei de imediato com o fato de ser um péssimo compositor, um péssimo músico e um péssimo cantor. Como não sabia fazer música convencional, tive de fazer sempre algo estranho."
-Tom Zé ao ser entrevistade por um jornalista do jornal espanhol 'El País'.

Essa sensação de fazer algo estranho. Esse sentimento de distanciamento do mundo. Se Tom Zé assume sua estranheza, sinto dó daqueles que afirmam sua normalidade.


sábado, 22 de março de 2008

Tomates e Bigodes

Velhos de Bandeira


Aprendi com Bandeira,
Não devemos dormir em noites de São João.
Arriscamos acordar sem nossos queridos velhos.
O fato que eu, com uma exemplar infância 'concret jungle',
Dificilmente comemorei uma noite de João.
Enfim, não lembro de adormecer em Juninas Festas.

Mas acordei, algum dia, assim como o menino Manuel,
E meus queridos velhos já não estavam lá.
Digo lá porque é lá que sempre os presenciei.

Minha velha Rosa ao fogo
E seu borbulhante molho de tomate.
Incrível! Impregnava não apenas a casa, a rua,
Mas a minha infância.
Sinestésico ou não,
Hoje percebo aqueles tomates,
Aroma de meus domingos.
Mas estes se foram
E os tomates já não exalam.

Meu querido velho.
Nome de filósofo, literário.
Uma janela aberta, um jornal.
De costas ao mundo da Barra-funda
E de vistas postas ao universo da leitura.
Lia aquele velhinho e lia muito.
Um par divertido de óculos
E um bigode mal-humorado.
Era divertido esse mau-humor
Cinismo que só a loção pós-barba explicaria.
Um avó que não acredita em Deus,
Convicto das aspirações de Cuba e do Corinthians.
Coisas de Euclides. Saudade destas coisas.

Sobrou as lembranças. Uma cabeça cheia.
Adormeci e cresci, acordei com essa sensação.
Algum dia serei o velho querido de alguém
E também irei inesperadamente para esse lugar
Assim que esse alguém adormecer,
Esse lugar onde esses velhos foram,
De Bandeira ou de minha infância,
Estão todos adormecidos
com seus molhos, seus jornais,
Minha infância.

Guilherme Assen
Fevereiro de 2008

De velhos que sinto falta. Minha Rosa e meu Euclides. Faziam poesia, eram minha infância. Vê-los em fotos, saudosas imagens, já basta para que lembre de cada momento ao colo e ao lado de cada um. Homenagem que não havia como deixar de lado. Infância, assim os resumo.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Algo entre o literário e o pessoal

Divina cobrança

Algo de bom, disse Deus.
E eu sem saber o que dizer.
Algo de bom?
Algo de bom já faço
Respiro,
Sem fazer nada,
O dia inteiro passo.

Mas algo de bom há de se fazer.
Ficar rico, escrever um livro.
Algo de bom, entende?

Rico! Todos querem isso.
Quero o que não querem.
E livro? Quê babaca lê?

Algo de bom, Deus,
Já faço.
Enfim,
Disfarço.


Guilherme Assen
Março de 2008



Acadêmicos já afirmam que a poesia está morrendo. Espalha-se por aí que já existem mais poetas do que leitores de poesia. Piada burra, de fato. Um poeta escreve e lê poesias. Há poetas que apenas leêm. Não há poetas que apenas escrevem. Devaneio, mas para ser poeta basta estar vivo. Não há a necessidade de ter um 'quintana' ou um 'baudelaire' no nome. São comercialidades da publicidade e não da poesia.

Afinal, os poetas escrevem para quem? Perguntar isso é o mesmo que discutir futebol, dificilmente chega-se à conclusão; conversas chatas, alongadas, discussões desagradáveis. A pergunta é: os poetas escrevem para quê? E então já não se sabe a resposta. Mar, bunda e Deus. Três poemas e de certo não escritos para a mesma finalidade. Digo que escrevo e que nem sei se sou poeta. Há quem diga não ser poesia. A prosa me dá preguiça, e assim respondo a razão fútil de meu lirismo.

domingo, 9 de março de 2008

Abundância

O Luxo abunda

Hipócritas em hiper-crises,
Hipo-críticos de cega futilidade,
Personas non-gratas da sociedade,
Marginais de luxo
Fecham-se em seus blindados
Com medo de serem seqüestrados
"Esses marginais? Um absurdo!”.

Na mídia o luxo abunda
Na realidade à pobreza, a bunda.
Sobra ao homem comum,
O trabalho, o ônibus lotado,
O SUS.
"Ah! Meu filho vai ser Doutor!”.
A bunda ao SUS.

Vivem e mostram suas "Caras"!
Esquecem de nossas bundas.
Querem um mundo primeiro,
Não vivem em nosso país terceiro.
O lixo, a corrupção, abunda!
Envergonham-se de nossa posição geográfica
"Quem muito abaixa mostra a bunda!”.

Estranho, o lixo mostra-se por aí
Maquiado de luxo.
"A bunda é a bunda", afirmou Drummond.
Em nosso país, a bunda abunda.


Guilherme Assen
Setembro de 2007

Depois de um longo e tenebroso inverno, a ideofobia volta a me perturbar. Gostaria de escrever apenas sobre a indiferença, mas tantas bundas por aí se demonstram que sinto-me envergonhado de ainda não ter exposto a minha.

Reparem o quanto algumas coisas são superficiais. Sentimentos, política... Enfim, nossa sociedade alimenta-se de 'passageirismos'. Nada aprofunda-se, salvas as crises e a solidão.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Algo de infinito

Há mar

Poesia pra mim é o mar.
É olhar o horizonte e não ver um fim.
É saber que há outros ares, outras terras
E não enxergar.

Um poema cabe no espaço do olhar.
Procurar o horizonte,
Tentar distinguir o céu do oceano
E só respirar.

Cada verso. Cada grão de areia.
Não há infinito mais finito que o mar.
Quantos litros? Quantas rimas?
Minha cabeça sabe quantas há.
Meus olhos são incapazes de contar.

Poesia é pular de encontro às ondas,
Sentir sua força deixá-las passar.
Vez ou outra acompanhá-las,
Deixar-se levar.

O verão tem um fim.
Mas volta, o sol volta a esquentar.
Poesia, céu, maresia. Há mar.


Guilherme Assen
Janeiro de 2008.


Longe de alcançar Caeiro em ‘Pessoa’, esse poema foi algo novo. Hoje percebo que se fez sozinho acompanhado de uma sensação de liberdade. Olhar o mar, apoiar o lápis no papel e deixar-se levar pela sensação leve que o calor e o ‘nada para fazer a não ser aproveitar o dia’ provocam. O mais perto que cheguei do meu lirismo e para ser sincero não lembro como o alcancei. Espero que seja o primeiro de muitos. Assim que vejo a poesia. Há mar, a poesia.