domingo, 28 de junho de 2009

O Vira-lata da Literatura

Sérgio Vaz - agitador cultural equipado com armas de mais de 400 páginas transforma a realidade da periferia.

Mineiro, nasceu em 26 de junho de 1964 – praticamente, três meses após o Golpe Militar no Brasil. Ainda criança, saiu de Belo Horizonte para morar em Taboão da Serra, município pobre da região metropolitana de São Paulo que é considerado, por muitos, um “bairro” da periferia paulistana.

Cresceu envolto por livros, mas estudou pouco; Sérgio Vaz não chegou a cursar o colegial. Aos 15 anos de idade, começou a trabalhar como office-boy para uma agência bancária e teve que largar os estudos. Lembra, no entanto, que nos natais e em seus aniversários sempre ganhava livros como presente. “Desde sempre meu pai me comprava livros. Eram livros de sebo, baratos, judiados, mas que guardo com carinho por saber a importância que tinham para o meu velho”, relembra Vaz.

E então foram anos arranjando bicos para sobreviver entre uma leitura e outra. Vendedor, auxiliar de escritório, auxiliar de cobrança, feirante e outros tantos cargos em uma rotina de pontos de ônibus e cartões batidos distante de seu atual dia-a-dia. "Eu praticamente não existia. Saía para trabalhar como estivesse indo para a forca”, responde o poeta ao ser questionado sobre sua vida antes e depois da escrita.

Aos trinta anos de idade, conseguiu economizar parte de seu salário para editar seu primeiro livro de poemas, intitulado, simplesmente, de “Livro de Poemas”. Poucos exemplares foram impressos e, então, distribuídos para familiares e amigos. Com o tempo, Sérgio Vaz foi deixando de ser um “faz-tudo” para se tornar escritor.

Cinco anos após seu “Livro de Poemas”, Vaz reuniu alguns amigos e no dia 11 de fevereiro inaugurou a primeira Semana de Arte Moderna da Periferia. Na mesma data na qual Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Villa-Lobos e outros tantos artistas se exibiram para quebrar os tabus da arte passadista, Vaz e seus companheiros se uniram para criar o que seria a Cooperativa Cultural da Periferia, a Cooperifa.

As reuniões eram feitas em uma fábrica abandonada, em Taboão da Serra. Sem organização prévia, o grupo se encontrava, todas as quintas-feiras, para recitar suas próprias poesias. Não havia censura, os poetas poderiam falar sobre tudo desde que as discussões fossem através de rimas. Com o tempo, a cooperativa ficou conhecida por Taboão e chegou a reunir em torno de 100 pessoas para o debate lírico. Todo esse destaque atingiu a imprensa e, logo que a prefeitura ficou sabendo da invasão cultural na fábrica abandonada, os agitadores foram expulsos. “Viramos o movimento dos sem-palco”, brinca Vaz.

O grupo passou a se reunir em botecos até que se fixaram no Bar do Zé Batidão, propriedade do pai de Sérgio Vaz, no bairro da Piraporinha. “Na periferia, espaço público ou é igreja ou é bar”, concluí o agitador cultural. Os artistas se reúnem todas as quartas para conversar e recitar seus versos. Como um líder, Vaz sempre senta ao lado de onde as apresentações acontecem, em um palco improvisado no canto do boteco. Saboreia o escondidinho do Zé e bebe duas ou três latinhas de cerveja. E é assim que Vaz define sua própria poesia: “maloqueira e periférica, toma cerveja e só fala o que não agrada”. Tem tanto carinho pela Cooperifa que ele próprio desenhou o símbolo da cooperativa, um garoto empinando uma pipa. O desenho fez tanto sucesso entre os idealizadores que todos eles tatuaram “Cooperifa” seguida do menino brincando com o “papagaio”. Tatuagem esta que Vaz faz questão de deixar exposta em seu braço direito.

Suas convicções e seus projetos conseguem criar oportunidades onde não há nada além de espaço. Sem teatros, cinemas e até mesmo escolas, Vaz se esforça para abrir caminho para que a arte possa se mostrar como alternativa às drogas e à violência. “Nunca vi Taboão tão violenta. Outro dia cruzei com um garoto que carregava uma arma com mais de quatrocentas páginas. Tem até adulto traficando conto”, diz Vaz entre gargalhadas.

Atualmente, o poeta trabalha a hora que bem entende, apenas escrevendo e produzindo projetos culturais. No entanto, afirma que nunca trabalhou tanto e que usa sua insônia e seu vício em café como aliados para escrever cada vez mais. Não bate cartão e, raramente, sai de casa. Mora, no próprio bairro de Piraporinha, em Taboão da Serra, na mesma rua na qual acontecem os saraus. É casado, há quase 20 anos, com Sônia e é pai de Mariana, uma garota de 15 anos pouco interessada por livros, mas apaixonada por música.

Vira-lata da literatura, como se autodefine, o poeta marginal tem colecionado elogios. Seus textos e seus projetos extravasaram a periferia e ganham a aprovação dos meios acadêmicos e dos grandes veículos de comunicação. Antonio Vicente Pietroforte, poeta e lingüista pesquisador da Universidade de São Paulo, considera o líder da cooperativa um herói. “Vaz está fazendo o que aluno nenhum de letras se preocupa em fazer. Promove a leitura e a escrita, não importa onde, não importa a condição”, afirma o pesquisador. Pietroforte já chegou a, inclusive, dividir alguns recitais com Vaz e diz que ainda o fará participar das atuais altas rodas literárias.

Vaz não se preocupa com isso. Diz preferir os moleques do morro aos professores universitários. No entanto, reconhece a importância da amizade com o lingüista afirmando que o quer cada vez mais perto de seus projetos. O poeta marginal já publicou seis livros sendo os dois últimos – Cooperifa: Antropofagia Periférica e O Colecionador de Pedras – editados e comentados por Heloísa Buarque de Hollanda, aclamada ensaísta e crítica literária brasileira.

Entre pedras e leituras, Vaz culpa a má administração pública pela ausência da cultura na periferia. O poeta já assumiu por diversas vezes discursos panfletários de ataque e revolta. Hoje prefere escrever e se movimentar. “Já não podemos esperar mais nada desses engravatados (políticos), até prefiro assim. Saindo das minhas mãos, garanto que será bem feito”.

sábado, 13 de junho de 2009

In a Mission From God

Há alguns anos assisti The Blues Brothers (1980), dirigido por Jonh Landis. Produção recheada pelo nonsense e pelo cinismo de Jonh Belushi e de Dan Aykroyd nos papéis de "Joliet" Jake e Elwood Blues - dois irmãos, malandros e sádicos, movidos pelo talento musical e pela pilantragem.



O longa é resultado de um dos mais conhecidos sucessos de Saturday Night Live, programa transmitido há mais de 30 anos pela rede norte-americana NBC. O quadro, no qual Belushi e Aykroyd caricaturavam músicos de Jazz e Blues, tornou-se tão popular que rendeu dois projetos paralelos: The Blues Brothers Band, lançado pelo disco Briefcase Full of Blues (1978), e The Blues Brothers, adaptado para a telona em parceria com Jonh Landis.

Tão divertido quanto genial, o filme é marcado por participações de ícones da música como James Brown, Cab Calloway, Ray Charles, Aretha Franklin e - o bad like Jesse James - Jonh Lee Hooker.

De Sweet Home Chicago a Minnie the Moocher, são 2h30 de ritmo e solos de gaita, guitarra e baixo. A banda passa por praticamente todos o mais tradicionais estilos da música norte-americana e chega até a deixar gravada a sua versão de Stand by Your Man, imortalizada pela folclórica rainha do Country, Tammy Wynette.

The Blues Brothers Band gravou outros tantos discos e continua se apresentando em turnês pelos estados norte-americanos e por outros países. A produção chegou a filmar Blues Brothers 2000, suposta continuação da saga dos irmãos Blues, mas, sem a participação de Jonh Belushi, o filme não impressionou e acabou sendo deixado de lado pelos fãs e, até mesmo, pelo próprio Dan Aykroyd.

The Blues Brothers (1980 - Universal Studios) foi um presente dado por Lalá Cabrini. Em quase dois anos de amizade, o pequeno cronópio já me presenteou com sorrisos, abraços, livros e filmes inesquecíveis. Amor para além das belas-artes.