segunda-feira, 21 de julho de 2008

Somos tropicais, não somos?

Todos sabem que moramos em um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Os trópicos nos deram o clima e os gringos nos nomearam latinos. Criamos então o chorinho, o samba e a bossa-nova; o Brasil marcava o mundo com seu ritmo e sua cultura digna da antropofagia pretendida por alguns modernistas. 1964 e muitos Atos Institucionais depois, enfrentamos uma ditadura militar que nos podaria em cada verso, em cada nota musical. Movimentos surgiram e até 1968 vivemos um clima de revolta de alma estudantil e faces juvenis, que se caracterizaria de esquerda e iria lutar contra aqueles que, com a tesoura na mão, faziam questão de decepar qualquer idéia de liberdade que brotasse em cabeças brasileiras.

Os movimentos de tradição esquerdista tomaram como marca a nossa cultura, era preciso ser patriota para derrubar a ameaça armada. O violão e os versinhos de Vinicius estariam em boas mãos: os jovens cantavam Jobim e assistiam Glauber Rocha, nada mais brasileiro do que ser alheio ao mundo, ser nacional. Era preciso construir uma geração de patriotas disposta a gritar contra a ditadura.

Do mesmo modo que a ferrenha ditadura acabou por criar a força dos movimentos libertários, essa radical esquerda provocaria o que viria a ser verdadeiramente tropical. O rock, as psicodélicas guitarras elétricas de Alegria, Alegria; o pop, o erudito e o brasileiro juntos: nascia a Tropicália.

Quebrando qualquer corrente brasileira já existente e baseando-se no movimento hippie norte-americano, o tropicalismo trouxe o verdadeiro sentimento libertário ao país. O movimento ocorreu entre 1967 e 1968, e trouxe ideais novos sobre sexo, música, comportamento e política. Um ódio movia a avant-guarde de baianos que chocavam as platéias dos festivais da TV Record acostumados a Buarques e Vandrés. "Viva a palhoça-ça-ça!". Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé e outras feras que compunham e inovavam a cada verso, jogaram-se contra tudo o que era convencional e marcaram à guitarras elétricas o novo jeito brasileiro de ser: o escândalo das cores, o ritmo, a poesia, a política de tudo que é contrário à dominação e a favor de tudo que é vinculado à liberdade de expressar o que se bem entende.

Os tropicalistas foram perseguidos e Caetano e Gil presos em dezembro de 1968. A ditadura rompia a vanguarda, mas a vanguarda romperia a ditadura mais tarde e perduraria até os dias de hoje, 40 anos depois, com as músicas, poesias e obras de arte que eternizariam as roupas coloridas e os cabelos encaracolados desses nobres tropicais.


Discurso de Caetano como reação às vaiais do auditório dos festivais de música da TV RECORD.

Que juventude é essa? Que juventude continua sendo essa?

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre batuque e pandeiros mancos.

Pandeiro, pão-Demônio


Velho pandeiro que agora espanco,
velho, de couro velho e um prato manco,
madeira machucada que o tempo marcou,
em você marco o ritmo, a raiva e o que aqui passou.

O tapa é o forte que me abate.
O ritmo é a alegria - que esta não me mate.
O som quase típico, o copo inteiro etílico,
amigos rindo, alguém cantando e eu espanco.

Estanco o que de mim se aflora.
Nasceu a raiva e o nervosismo sua presença implora.
Morre aqui nesse tapa, meus devaneios,
meus medos, e em meus dedos, minha demora.

Morre o pensar, o penar, o esperar.
Morre ela e tudo o que dela minha solidão explora.
Nasce o riso, o pranto tolo. E outra samba,
e outra canta e eu rebolo.

Mão que de tanto bate que se abate o embate.
Desilusão, um toque, um tchau e um "vai-te...".
À merda, é claro. Porque pandeiro é malcriado
e de tanto apanhar fez-se meu criado.

Guilherme Assen, poema ao meu velho.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A Bela e a Feira



Profetisa.

Ela vai para Austrália.
Depois de tudo, ela vai em boa hora.

Profetas, aos prantos, declamarão:
"Casará com um aborígene,
pintará o cabelo de roxo
e aprenderá a surfar!

Os amigos, todos eles,
em São Paulo vai deixar.
Por um sonho, maior que ela,
diz a Bella, que vale a pena buscar".

Rimas fracas de profeta.
Coração amigo de poeta fraco diz:
"Saudade. É tudo que vou guardar."

Já não sambo com mais ninguém.
Volte, minha nêga.
Volte e me faça sambar.

Guilherme Assen.

Sábado fui à Feira Moderna - lugar apaixonante. Loja de artesanatos e café durante o dia, bar e palco para o samba durante a noite. Um jardim bem cuidado e frequentadores bonitos. Cerveja Original e pinga original do nordeste, a Cajuína. A caipirinha é boa, mas isso já é uma redundância; com tantas qualidades e com bom samba qualquer limão e pinga ganha vida.

Garotas de vestidos azuis (ou verdes) também são vistas por esse lugar. Graça, beleza e samba. Samba de branco, de mulatos, de negros e de japoneses. Samba não tem cor, tem graça. Feira Moderna é um canto interessante na altura do número mil-duzentos-e-quarenta-e-poucos da rua Fradique Coutinho, Vila Madalena, São Paulo, São Paulo.

Para aqueles que não conhecem samba ou cajuína, fica a oportunidade. Para aqueles que conhecem garotas de vestidos verdes (ou azuis) corram pois estas costumam a sambar sozinhas, não falta homem, falta atitude. E para a Dona Isabella, que em breve deixará nosso Pindorama e rumará para sua aventura por terras australianas, toda a sorte e felicidade do mundo. Amo você e espero a volta da amiga para qualquer samba, qualquer dia desses.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ao Mestre, com carinho

"Os verdadeiros versos não são para embalar,
mas para abalar..."

- Mario Quintana






domingo, 6 de julho de 2008

Da nova série: "Clique no poema"


A Poesia agradece.